Publicada a norma nacional de testes em cabeamento óptico

Introdução

As fibras ópticas estão sendo cada vez mais utilizadas em redes de dados, tanto em data centers, quanto em redes de acesso dos assinantes de serviços públicos de telecomunicações (como o FTTx). Elas oferecem maior largura de banda, além de serem mais compactas do que os cabos com condutores metálicos e não sofrerem ou causarem interferência eletromagnética.

Só que há a necessidade de se testar esses enlaces ópticos, principalmente após sua instalação, pois durante a implantação, seus componentes são submetidos a vários procedimentos que podem comprometer seu desempenho, tais como: tração, curvatura e torção dos cabos ópticos; emendas das fibras; confecção de conectores ópticos; conexão de patch cords em cross-connects.

Durante a implantação, tais procedimentos podem levar à degradação do desempenho do enlace devido a diversos fatores decorrentes. Exemplos: macrocurvaturas; rompimento das fibras; emendas defeituosas; conectores trincados ou sujos etc.

Normas de testes de fibra óptica

Portanto, para termos certeza de que, tanto o material utilizado no projeto, quanto as técnicas utilizadas em sua instalação, atendem às melhores especificações de qualidade, possuindo desempenho suficiente para permitir todo o tráfego de dados esperado ao longo da vida útil do enlace óptico, temos que testá-lo utilizando as ferramentas, equipamentos e procedimentos corretos.

A questão é que as normas nacionais até então existentes somente especificavam técnicas de ensaio para componentes (somente cabo, somente fibra, somente emenda, ou somente conexões). Como exemplos, podemos citar normas para ensaios de: impacto, sensibilidade à curvatura, abrasão e ciclo térmico de cabos ópticos; durabilidade e estabilidade de conectores e adaptadores; determinação de perda na emenda etc.

Mas não havia uma norma que estabelecia as bases para o teste de enlaces ópticos inteiros, instalados, já contendo uma coleção de componentes encadeados, como cabos, emendas, conectores e patch cords.

Só que agora já temos essa norma! É a NBR 16869-2 – Cabeamento estruturado – Parte 2: Ensaio do cabeamento óptico, publicada em 12/04/2021. Ela foi resultado do trabalho da comissão de estudos CE-003:046.005, pertencente ao Comitê Brasileiro de Eletricidade (COBEI), ligado à ABNT. Esta norma, em grande parte, segue as orientações das revisões mais recentes das normas internacionais ISO/IEC 14763-3 (Information technology – Implementation and operation of customer premises cabling – Part 3: Testing of optical fibre cabling) e IEC 61280-4-1 (Fibre-optic communication subsystem test procedures – Part 4-1: Installed cabling plant – Multimode attenuation measurement).

Siga este link (https://www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=465992) para adquirir a norma ou ver mais detalhes. Para saber quais são as normas mais relevantes no âmbito do cabeamento estruturado, leia este artigo.

A NBR 16869-2

A NBR 16869-2 descreve equipamentos, ferramentas e procedimentos que devem ser utilizados, como mínimo, para a execução de testes em enlaces instalados de fibra óptica monomodo e multimodo. São eles: kits de limpeza de faces de conectores; microscópio para inspeção da face de conectores; LSPM; OTDR; respectivos acessórios.

Ensaio do cabeamento de acordo com a NBR 16869-2

Esta norma complementa as demais normas nacionais que tratam do projeto de sistemas de cabeamento estruturado em fibra óptica, que são as ABNT NBR 14565, ABNT NBR 16264, ABNT NBR 16521 e ABNT NBR 16665.

Existe ainda a NBR 16869-1, que trata sobre os requisitos para o planejamento de sistemas de cabeamento estruturado. Esta é uma norma recente, publicada em julho de 2020, e que possivelmente será tema de outro artigo do blog. E a NBR 16415, que trata dos caminhos e espaços para cabeamento estruturado.

O vídeo a seguir fala sobre a publicação da norma NBR 16869-2.

Inspeção e limpeza

A norma descreve ferramentas e procedimentos mínimos a serem adotados para inspecionar e limpar a face de conectores ópticos. Os conectores estão presentes nas terminações dos cabos e dos patch cords ópticos, mas também estão presentes nas portas dos equipamentos de rede e dos próprios equipamentos de teste, além de fazerem parte dos cordões e fibras de lançamento que estarão inclusos nos procedimentos de ensaio.

A norma frisa a importância de se inspecionar e, se for o caso, limpar as interfaces das fibras ópticas que farão parte dos testes antes que qualquer processo de medição e de referência seja executado. Ela define requisitos mínimos do microscópio a ser usado na inspeção da face dos conectores, bem como a norma internacional de referência sobre o assunto.

Como parte da certificação de um enlace óptico instalado, a norma define os seguintes tipos de inspeção sobre o cabeamento instalado:

  • Continuidade da fibra óptica: para verificar se as fibras são íntegras de uma extremidade a outra do enlace;
  • Polaridade da instalação óptica: para verificar se cada fibra conecta as portas correspondentes em ambas as extremidades, sem inversões;
  • Comprimento do cabo óptico: pode ser verificado visualmente pelas marcações de capa ou com o auxílio de equipamentos de medição (como um OTDR);
  • Inspeção das faces dos conectores: como já comentado neste artigo;
  • Dimensão do núcleo da fibra óptica: verificação das dimensões do núcleo em relação à casca da fibra nas terminações ópticas.

Veja no vídeo a seguir o que pode acontecer se a inspeção e a limpeza não forem realizadas corretamente.

LSPM

O LSPM nada mais é do que o popularmente conhecido “power meter”. A sigla significa “Light Source and Power Meter”, a combinação entre a “fonte de luz” (necessária para acoplar luz na fibra a ser testada) e o “power meter” (o medidor de potência óptica, em si). Equipamentos LSPM, como mínimo, permitem medir a atenuação (perda) do enlace óptico completo.

A norma define os procedimentos para medição da atenuação do enlace, os comprimentos de onda de trabalho do LSPM, o nível de precisão do equipamento, além de demais requisitos, como sua calibração e especificações dos cordões de ensaio, por exemplo.

Um detalhe a observar, muito importante, por sinal, e coberto pela norma, é o método de referência a ser utilizado ao se configurar o LSPM antes dos testes. A norma define quatro métodos de referência, a saber:

  1. Um cordão
  2. Dois cordões
  3. Três cordões
  4. Cordão do equipamento

A diferença entre esses quatro métodos é a inclusão ou não da atenuação dos conectores que estão nas extremidades do enlace a ser testado.

Um dos modelos de referência

Estes vídeos exploram alguns detalhes dos testes realizados com LSPM.

OTDR

O OTDR (Optical Time Domain Reflectometer) é um equipamento que consegue medir parâmetros tais como atenuação, perda de retorno, atraso de propagação e comprimento da fibra. Ele pode realizar testes tanto do enlace completo quanto de seus componentes individuais, como trechos de fibra, emendas, conexões e dobras na fibra. Portanto, além de apenas ser utilizado para testes de aceitação do enlace, também é bastante útil no diagnóstico em instalações com falhas.

A norma define os procedimentos para os testes de enlace completo e de componente, os comprimentos de onda de trabalho do OTDR, e a forma recomendada de utilização das fibras de lançamento e fibras terminais durante os testes. Essas fibras de lançamento também têm suas características mínimas definidas nessa norma. Uma dessas características, imprescindível, é a que possuam comprimento superior à atenuação da zona morta do OTDR utilizado.

Exemplo de medição com OTDR

Para a inclusão de todas as conexões na medição realizada pelo OTDR, é necessária a utilização de fibras de lançamento no início e no final do enlace a ser testado. A norma explica a importância da utilização dessas fibras de lançamento, assim como detalha os aspectos a serem levados em consideração.

Estes vídeos explicam alguns aspectos dos testes com OTDR.

Outros tópicos

Além dos equipamentos e procedimentos já citados, a norma também dá recomendações com relação aos seguintes assuntos: calibração dos instrumentos; documentação dos testes realizados nos enlaces; fibras de lançamento; cálculo do balanço de perda.

A norma também tece considerações sobre testes unidirecionais e bidirecionais, tratamento e interpretação dos resultados, e fatores de incerteza na medição com LSPM e OTDR.

Os quatro métodos de referência de cordões usados com LSPM são explicados em detalhes nos anexos da norma. Há também anexos informativo sobre os detalhes mais técnicos de operação de um OTDR.

E por último, mas não menos importante, um anexo trás quatro exemplos de cálculo do balanço de perda de potência óptica. A atenuação do enlace óptico, medida por LSPM ou OTDR, deve ser comparada com o resultado deste cálculo, que servirá de parâmetro para aceitação da instalação.

No site da Clarity Treinamentos há uma calculadora online gratuita que ajuda o projetista ou instalador a realizar esse cálculo: https://www.claritytreinamentos.com.br/balanco-de-perda-optica/ . O vídeo a seguir também detalha a realização desse cálculo.

A atenuação medida também deve ser comparada com a perda máxima permitida para a tecnologia de rede que se pretende usar no enlace. Para conhecer os requisitos das tecnologias Ethernet, consulte estas tabelas, que cobrem desde 10 Mb/s até 400 Gb/s.

Conclusão

Agora já temos uma norma que define os procedimentos de testes para enlaces instalados em fibra óptica. Cabe agora aos profissionais da área se atualizarem e se apropriarem de seu conteúdo, de forma a entregarem instalações de fibra óptica com mais qualidade e garantia de desempenho.

Se achou este post útil, compartilhe, encaminhe a alguém que também possa achá-lo útil. Não deixe de se inscrever em meu canal do YouTube! Participe de meu grupo do Whatsapp e receba as novidades sobre meus artigos, vídeos e cursos. E curta minha página no Facebook!

Até a próxima!

Marcelo Barboza, RCDD, DCDC, ATS, DCS Design, Assessor CEEDA
Clarity Treinamentos
marcelo@claritytreinamentos.com.br

Sobre o autor
Marcelo Barboza, instrutor da área de cabeamento estruturado desde 2001, formado pelo Mackenzie, possui mais de 30 anos de experiência em TI, membro da BICSI e das comissões de estudos sobre cabeamento estruturado e de infraestrutura de data centers da ABNT, certificado pela BICSI (RCDD e DCDC), Uptime Institute (ATS) e DCPro (Data Center Specialist – Design). Instrutor autorizado para cursos selecionados da DCProfessional, Fluke Networks, Panduit e Clarity Treinamentos. Assessor para o selo de eficiência para data centers – CEEDA.

Optical Loss Budget Calculation

On 21/Mar/2019, I wrote an introductory article on the “Optical Loss Budget” (https://www.claritytreinamentos.com.br/2019/03/21/optical-loss-budget-an-introduction/), where I present what an optical loss budget is and what’s its purpose. In this article, we will address how to calculate it.

To recall, the “optical loss budget” is a calculation performed to estimate what will be the total attenuation of a fiber optic link even before it is installed. Among its purposes, we can emphasize two:

  • Verify that the optical link being designed meets the requirements of the applications that will run on it. If the calculated loss budget is greater than the loss margin allocated for the cabling of the intended application (e.g. 10GBASE-SR), the link may show data loss and even “go down”;
  • Establish a threshold that will be used during the performance of acceptance tests of the installed link. When testing the link with a PMLS (power meter + light source), if the measured attenuation is greater than the project’s loss budget, then we will know that something has failed during installation: the material and/or the labor were less than reasonable.

But how to calculate the optical loss budget? First, we must know exactly which optical components will be used in the link. If possible, know the exact brand name and model. Usual components are:

  • Fiber optic cable
  • Connectors
  • Splices
  • Splitters
  • Other passive components (e.g. taps and attenuators)

Next, we must determine the loss (attenuation) that each of these components will present when installed on the link. This information can be obtained from the technical specification sheets of the selected components. Caution: the attenuation may be different depending on the wavelength of light used.

The calculation must be carried out at all wavelengths intended to be used in the link. As a minimum, test:

  • multimode fibers in wavelengths 850 nm and 1300 nm;
  • single-mode fibers in wavelengths 1310 nm and 1550 nm.

If the part numbers of the components are not yet known, use standard market values or values specified by national or international cabling standards.

Examples of standard attenuation values established by ISO/IEC 11801-1:2017:

  • Coupled connectors:                        0.75 dB
  • Splice:                                              0.3 dB
  • Multimode fiber OM1 thru OM4: 3.5 dB/km (850 nm) and 1.5 dB/km (1300 nm)
  • Multimode fiber OM5:                    3.0 dB/km (850 nm) and 1.5 dB/km (1300 nm)
  • Single-mode fiber OS1a:                  1.0 dB/km (1310 nm and 1550 nm)
  • Single-mode fiber OS2:                    0.4 dB/km (1310 nm and 1550 nm)

We also need to know the total length of the complete link, in kilometers. That is because the loss of the “fiber optic” component will be proportional to its length (so the loss is given in “dB/km” as seen above).

Based on this information, we add all the values for the link to obtain its loss budget, in decibels (dB).

Example 1: A 3,000 m link made of OS2 single-mode fiber, terminated in pigtails spliced at both ends inside optical trays, whose connectors will be coupled to the front panel adapters. There will be a splice in the middle of the link:

Optical fiber loss: 3 km X 0.4 dB/km = 1.2 dB

Connector loss: 2 X 0.75 dB = 1.5 dB

Splice loss: 3 X 0.3 dB = 0.9 dB

Loss budget (1310 nm and 1550 nm): 1.2 + 1.5 + 0.9 = 3.6 dB

Example 2: A 200 m link made of OM3 multimode fiber, terminated in field polished connectors at both ends, coupled to the front panel adapters. No splices used:

Optical fiber loss @ 850 nm: 0.2 km X 3.5 dB/km = 0.7 dB

Optical fiber loss @ 1300 nm: 0.2 km X 1.5 dB/km = 0.3 dB

Connector loss: 2 X 0.75 dB = 1.5 dB

Loss budget @ 850 nm: 0.7 + 1.5 = 2.2 dB

Loss budget @ 1300 nm: 0.3 + 1.5 = 1.8 dB

As already mentioned, the values obtained should be compared to the applications specifications and to the values measured during the certification of the installed link.

If the measured value is greater than the calculated loss budget, check the installed material, the fiber route, the cleaning of the connectors and the quality of the splices. If necessary, use an OTDR to find the locations that exhibit losses above the expected.

You can also use this free online optical loss budget calculator to help you on this job.

If you found this post useful, share it, forward it to someone who might also find it useful.

See you next time.

Marcelo Barboza, RCDD, DCDC, NTS, ATS, DCS Design, Assessor CEEDA
Clarity Treinamentos
marcelo@claritytreinamentos.com.br

About the author

Marcelo Barboza, Structured Cabling instructor since 2001, graduated in Mackenzie University, has more than 30 years of experience in IT, member of BICSI, member of the ABNT/COBEI Committee of Studies on Structured Cabling (Brazilian Standards organization), certified by BICSI (RCDD, DCDC and NTS), Uptime Institute (ATS), and DCProfessional (Data Center Specialist – Design). Authorized instructor for selected courses of DCProfessional, Fluke Networks and Clarity Treinamentos.

Optical Loss Budget – An Introduction

When designing a fiber optic link, how to ensure that there will be enough light for the application to work? Or, after installing the optical link, how to ensure that the material has of good quality and that the workforce used in the installation followed all the recommendations and good practices?

Each application (or physical network protocol, such as Ethernet, for example) for fiber optics establishes a maximum attenuation (or loss) in the channel for it to work without performance degradation. If the channel attenuation is higher than the expected, the bit error rate (BER) begins to increase, causing network slowdowns and eventually dropping the link.

Each optical component bought and installed must also have a maximum expected loss, defined in structured cabling standards. When acquiring and installing optical links, we should know what this loss is, so we can compare it to the measurements performed at the time of network certification. If the measured loss is greater than expected, whether the material acquired is not so good, or the manpower used in the installation did not follow the normative recommendations and the respective suppliers. In this case, the link may not be able to receive the extended warranty from the manufacturer.

It is precisely for this that there is such a thing as the “optical loss budget”, a calculation of how much loss an optical link should present, at maximum, to ensure the quality of the installation and the operation of the network.

Read this article if want to learn how calculate the optical loss budget. And you can also use this free online optical loss budget calculator to help you on this job.

See you next time!

Marcelo Barboza, RCDD, DCDC, NTS, ATS
Clarity Treinamentos